Ganhadores do Nobel alertam: é preciso salvar o planeta e a humanidade com urgência

WASHINGTON – “A sustentabilidade global é o único caminho viável para a segurança humana, igualdade, saúde e progresso. A humanidade está acordando tarde para os desafios e oportunidades da administração planetária ativa.” O alerta faz parte da declaração Nosso Planeta, Nosso Futuro, assinada, entre outros, por 126 ganhadores do Prêmio Nobel. A carta foi entregue hoje, 3 de junho, pelos organizadores da recente Cúpula do Prêmio Nobel aos líderes do G-7 e ao secretário geral da ONU, solicitando que as conclusões e propostas sobre mudança climática e biodiversidade, desigualdade e transformação tecnológica nela contidas sejam levadas em conta nas próximas deliberações internacionais, como a Cúpula do G-7, que acontece no Reino Unido de 11 a 13 de junho.

A primeira Cúpula do Prêmio Nobel, realizada entre 26 e 28 de abril deste ano, reuniu virtualmente ganhadores do Prêmio Nobel e outros conceituados líderes nas ciências, políticos, empresários, além de jovens ativistas, artistas, comunidades voltadas para a sustentabilidade e a imprensa, para encontrar metas que possam ser alcançadas ainda nesta década com o objetivo de colocar o mundo num caminho que ofereça um futuro sustentável e mais próspero para todos. O editor chefe do Página Um, jornalista Marco Antonio Rosa, participou do evento. Inspirados pelas discussões da cúpula, os ganhadores do Prêmio Nobel de todo o mundo e outros especialistas emitiram um comunicado que apela por ações urgentes, destacando a necessidade de a humanidade estabelecer uma nova relação com o planeta e apresentando sete propostas.

  • POLÍTICA: O sucesso econômico precisa levar em conta o PIB mas também medidas do verdadeiro bem-estar das pessoas e da natureza. É preciso reconhecer que as disparidades crescentes entre ricos e pobres alimentam o ressentimento e a desconfiança, minando o contrato social necessário para a difícil tomada de decisão coletiva de longo prazo. Também é preciso reconhecer que a deterioração da resiliência dos ecossistemas prejudica o futuro da humanidade na Terra.
  • INOVAÇÃO COM MISSÃO: O dinamismo econômico é necessário para uma transformação rápida. Os governos têm estado na vanguarda do financiamento da inovação transformacional nos últimos 100 anos. A escala dos desafios de hoje exigirá colaboração em larga escala entre pesquisadores, governo e empresas – com foco na sustentabilidade global.
  • EDUCAÇÃO: A educação em todas as idades deve incluir uma forte ênfase na natureza das evidências, no método científico e no consenso científico para garantir que as populações futuras tenham a base necessária para impulsionar as mudanças políticas e econômicas. As universidades devem incorporar conceitos de administração planetária em todos os currículos com urgência. Em um século turbulento e transformador, devemos investir na aprendizagem ao longo da vida e em visões de mundo baseadas em fatos.
  • TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: Grupos de interesses especiais e mídia altamente partidária podem amplificar a desinformação e acelerar sua disseminação por meio das mídias sociais e outros meios de comunicação digital. Dessa forma, essas tecnologias podem ser implantadas para frustrar um propósito comum e minar a confiança do público. As sociedades devem agir urgentemente para combater a industrialização da desinformação e encontrar maneiras de aprimorar os sistemas de comunicação global a serviço de futuros sustentáveis.
  • FINANÇAS E NEGÓCIOS: Investidores e empresas devem adotar princípios de recirculação e regeneração de materiais e aplicar metas baseadas na ciência para todos os bens comuns globais e serviços ecossistêmicos essenciais. As externalidades econômicas, ambientais e sociais devem ter um preço justo.
  • COLABORAÇÃO CIENTÍFICA: É necessário maior investimento em redes internacionais de instituições científicas para permitir a colaboração sustentada em ciência interdisciplinar para a sustentabilidade global, bem como ciência transdisciplinar que integre diversos sistemas de conhecimento, incluindo conhecimento local, indígena e tradicional.
  • CONHECIMENTO: A pandemia tem demonstrado o valor da pesquisa básica aos formuladores de políticas e ao público. O compromisso com o investimento sustentado em pesquisa básica é essencial. Além disso, devemos desenvolver novos modelos de negócios para o compartilhamento gratuito de todo o conhecimento científico.

No final, a declaração conclui que “a sustentabilidade global oferece o único caminho viável para a segurança humana, equidade, saúde e progresso. A humanidade está acordando tarde para os desafios e oportunidades da administração planetária ativa. Mas estamos acordando. A tomada de decisões de longo prazo com base científica está sempre em desvantagem no confronto com as necessidades do presente. Políticos e cientistas devem trabalhar juntos para fazer a ponte entre as evidências de especialistas, a política de curto prazo e a sobrevivência de toda a vida neste planeta na época do Antropoceno. O potencial de longo prazo da humanidade depende de nossa capacidade hoje de valorizar nosso futuro comum. Em última análise, isso significa valorizar a resiliência das sociedades e a resiliência da biosfera da Terra.

A íntegra da declaração pode ser lida aqui.

Imagem em destaque: © Nobel Prize Outreach

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