Como pintar a solidão?

Contos de Conceição Evaristo sobre lágrimas que escorrem contra a vontade das mulheres.

E assim a minha vida foi-se fazendo. Naquelas férias mesmo, comecei a acompanhar a Tia Aurora, quando ela ia às casas dos alunos e ao Conservatório de Música dar aulas de piano, violino e harpa. Eu vivia de novidades em novidades. Tudo me encantava. A escola de música, as mansões dos pais dos alunos, a paciência, a disciplina de minha tia, que ficava horas e horas tocando sozinha em casa. Nesses concertos íntimos, um dia, depois que eu estava morando definitivamente com ela, assisti a uma das cenas mais comoventes de minha vida. Tia Aurora tocava o violino, eu de olhos fechados, tal era o enlevo que a música me causava, quando, de repente, percebi um som diferente. Abri os olhos, a musicista chorava, soluçava… Ela e o violino. Um dia hei de retomar essa imagem em uma pintura… Mas como pintar a concretude da solidão de uma mulher? Como pintar a concretude da soledade humana?

Trecho do conto Mary Benedita.

Insubmissas Lágrimas de Mulheres, de Conceição Evaristo.

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