Anfíbios e répteis correm risco de extinção na Zona da Mata de Pernambuco

A Serra do Mascarenhas, localizada entre os municípios de Vicência e Timbaúba, em Pernambuco, é o lar de 56% dos anfíbios e 20% dos répteis registrados na Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco. Essa é a conclusão de uma pesquisa de levantamento de espécies liderada pelo professor Pedro M. Sales Nunes, vinculado ao Laboratório de Herpetologia do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com estudantes de graduação e pós-graduação da instituição. Parte dos resultados do estudo foi publicada recentemente sob o título “Herpetofauna das Matas de Água Azul, um remanescente de Mata Atlântica na Serra do Mascarenhas, estado de Pernambuco, Brasil”, na Revista Biota Neotrópica, tendo a estudante Patrícia Marques como autora principal.

Um alerta apresentado pela pesquisadora é que a grande fragmentação da Mata Atlântica na região, interrompida por extensas áreas de cultivo com cana-de-açúcar, contribui para que espécies encontradas pelo estudo possam deixar de existir por viverem em espaços que não lhes deem as condições necessárias para a perpetuação.

Desenvolvida entre os anos de 2017 e 2018, a pesquisa contou com quatro expedições, sendo duas na época de seca e duas na época de chuva. Pedro Nunes explica que os períodos de chuva podem resultar numa grande mudança da fauna, principalmente na de anfíbios. Além disso, a estação chuvosa marca o período de reprodução da espécie. Ao todo, os pesquisadores conseguiram catalogar ali 45 espécies diferentes de sapos. Já os répteis encontrados na área somam 40 espécies distintas: 21 cobras, 18 lagartos e um quelônio da espécie Phrynops geoffroanus, popularmente conhecido como cágado de barbicha.

AMEAÇAS

O estudo identificou a presença de algumas espécies raras não encontradas em pesquisas anteriores, além de outras sete espécies que, em algum nível, estão ameaçadas de extinção. Dentre as raridades está uma cecília, um anfíbio ápode (sem patas) que geralmente vive escondido dentro da terra. Já a lista dos animais ameaçados conta com dois répteis e cinco anfíbios. Dentre os répteis, estão o lagarto Strobilurus torquatus e a serpente surucucu pico-de-jaca Lachesis muta, ambos sinalizados como “espécie vulnerável” no Estado de Pernambuco. Entre os anfíbios estão a perereca Boana exastis, também considerada “em perigo” e a rãzinha Allobates olfersioides, que está na lista de espécies classificadas como “vulnerável”, tanto pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

“Além da cecília, outra surpresa encontrada pela equipe foi a rãzinha Adelophryne baturitensis, uma espécie que nunca havia sido registrada em uma mata de baixa altitude (por volta de 400m) já que era típica de matas de grande altitude (acima de 1.000m do nível do mar). No entanto, a rãzinha também é considerada como “vulnerável” pela IUCN”, relata o artigo.

Um dos fatores que mais influenciam na dificuldade de se encontrar algumas espécies e até no quadro de extinção delas é o grande número de fazendas, sobretudo propriedades voltadas para a agroindústria canavieira, na Zona da Mata de Pernambuco. De acordo com Patrícia Marques, esses latifúndios geram a fragmentação da Mata Atlântica no estado, além de funcionarem como barreiras, impedindo que animais transitem entre os fragmentos. “O grande risco é que essas espécies podem acabar restritas a fragmentos muito pequenos. Com isso, elas correm o risco de ficarem presas a fragmentos que talvez não consigam fornecer a elas plenas condições de vida”, explica a pesquisadora.

Imagens em destaque extraídas da pesquisa: A Serra do Mascarenhas e duas espécies ameaçadas de extinção encontradas ali: o lagarto Strobilurus torquatus e a cobra surucucu pico-de-jaca, Lachesis muta.

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