Acidente de pesquisa leva à invenção de detergente seguro para a saúde e o meio ambiente

Um detergente barato, de cheiro agradável, que pode ser inalado, não irrita os olhos nem a pele, mesmo que se deixe a mão mergulhada em um balde durante horas. O produto, batizado como DTM (detergente mineral), foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) depois de um acidente de pesquisa e vem mostrando ser uma solução bastante adequada para a limpeza geral no pós-obra.

“O produto é capaz de blindar as superfícies contra todo tipo de resíduo – de pó de asfalto a massa de concreto ou tinta –, mas se desfaz em contato com a água”, revela o estudante Felipe Monteiro, do curso de Engenharia Civil, que inventou o produto juntamente com Ronaldo Lepesqueur, professor do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (Icex).

“Dessa forma, substâncias derramadas sobre as superfícies se incorporam à camada do detergente e ficam sólidas. Em seguida, basta passar um pano, com uma quantidade mínima de água, para que o DTM se desfaça e o local fique limpo novamente”, resume o graduando.

A dupla testou o detergente em superfícies de concretos lisos e porosos, materiais esmaltados, mármores e granitos, vidros, madeiras, alumínio, ferro e aço cromado. O produto não compromete a saúde humana nem o meio ambiente porque não contém, em sua composição, ácidos sulfônicos de qualquer tipo, polifosfatos, óxidos de aminas, álcoois saturados, derivados da betaína ou compostos aromáticos.

O acidente

A formulação definitiva do DTM resultou de uma minuciosa pesquisa – que só foi empreendida, no entanto, depois de um acidente, ocorrido dentro do laboratório. “Estávamos envolvidos na criação de um método para purificar rejeitos industriais têxteis. Durante os testes, a filtragem dos resíduos gerava uma massa densa. No momento de descartar esse material, ele caiu sobre um armário de metal, encardido e velho. Quando fomos limpar, percebemos que a porção atingida do móvel ficou novinha”, relata Felipe Monteiro.

Os dois se dedicaram, então, à tentativa de reproduzir aquela massa, manipulando suas propriedades para que ela se tornasse um produto de limpeza eficaz, seguro para a saúde e para o meio ambiente, barato e com cheiro agradável. “Testamos muitos componentes e trocamos muitas ideias, até chegar a uma fórmula com rendimento e capacidade de limpeza ideais”, relata Felipe.

Inventores e cobaias

“Fomos os formuladores do DTM, analistas econômicos e até cobaias, já que testamos o produto na limpeza de casa e verificamos sua atoxicidade expondo nosso próprio corpo”, revela Ronaldo Lepesqueur. O docente ficou responsável pela formulação e análise química, enquanto Felipe gerenciou os padrões comerciais, incluindo os objetivos do produto, a relevância e o custo dos materiais.

A prioridade foi desenvolver um produto ambientalmente sustentável. Nesse sentido, os inventores se orgulham do fato de o DTM requerer, no máximo, um balde de água para a limpeza de um terreno de 50 metros quadrados e poder ser descartado na natureza. 

Os pesquisadores também buscaram oferecer aos consumidores o menor custo possível. “Não adiantaria criar algo fantástico se não fosse financeiramente viável para o público. Por isso, em todos os testes de componentes, a gente começava com o mais barato”, relatou o professor.

Como observa Lepesqueur, existem no mercado alguns produtos com utilidade similar, que, no entanto, são tóxicos. “O sapólio, por exemplo, contém ácidos muito danosos ao corpo humano. Outros líquidos removem concreto e tinta, mas que não têm ação preventiva e ainda exigem luva, óculos e máscara no manuseio. Nosso produto pode ser inalado, não irrita os olhos nem a pele, mesmo que se deixe a mão mergulhada em um balde com DTM durante horas”, enfatiza.

O DTM está patenteado pela UFMG e seus direitos de fabricação e comercialização já podem ser negociados.

Imagem em destaque: Limpeza de instalação com o DTM/Divulgação UFMG

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