Universidade de Harvard tenta reparar seu passado ligado à escravidão nos EUA

A Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas do mundo, está destinando 100 milhões de dólares (algo em torno de 500 milhões de reais, na cotação de hoje) para reparar seus laços com a escravidão nos Estados Unidos. A quantia será aplicada na implantação de todas as recomendações propostas no documento Harvard & The Legacy of Slavery (Harvard e o Legado da Escravidão), divulgado hoje e produzido por um colegiado de professores da casa, que analisou as estreitas relações da instituição de ensino com a exploração de afro-americanos e indígenas ao longo de seus quase 400 anos de existência. A decisão foi comunicada em e-mail enviado a todo o corpo docente, funcionários e alunos, por Larry Bacow, presidente da escola de ensino superior. Com o anúncio, Harvard junta-se a outras universidades norte-americanas, como Brown, Georgetown e Princeton Theological Seminary, que não estão apenas enfrentando sua cumplicidade no estabelecimento e na manutenção da escravidão como também estão investindo recursos financeiros e esforços para fazerem as pazes com o seu legado nada honroso.

O relatório do comitê presidencial sobre Harvard e o Legado da Escravidão documenta os laços da universidade com a escravidão – direta, financeira e intelectual – e oferece sete recomendações que orientarão o trabalho de ajuste de contas e reparos que está começando com a dotação de recursos (a sexta delas). São elas:

  • envolver e apoiar as comunidades descendentes aproveitando a excelência em educação de Harvard;
  • honrar os escravizados por meio da memorialização, pesquisa, currículos e disseminação do conhecimento;
  • desenvolver parcerias duradouras com faculdades e universidades negras;
  • identificar, envolver e apoiar descentes diretos;
  • honrar, envolver e apoiar comunidades nativas;
  • estabelecer um fundo dotado de Legado de Escravidão para apoiar os esforços reparativos da universidade;
  • garantir a responsabilidade institucional.

O relatório afirma que Harvard, fundada em 1636, deveu sua imensa riqueza a seus patronos, cujas fortunas foram feitas nas costas de pessoas escravizadas e cujos nomes ainda enfeitam dormitórios e outros edifícios em que os alunos entram e saem todos os dias.

O relatório é denso e exaustivo. Seu conteúdo inclui os laços financeiros de Harvard com a escravidão, abolicionistas do campus, ciência racial e os vestígios da escravidão no século 20 por meio da discriminação nas admissões e moradia.

Mas o componente mais emocional talvez seja o apêndice Enslaved by presidents of Harvard (Escravizado por presidentes de Harvard) que lista mais de 70 negros e nativos americanos escravizados por figuras proeminentes em Harvard – presidentes, bolsistas, membros do conselho de supervisores, professores, funcionários e grandes doadores, nos séculos XVII e XVIII. Quase todas as pessoas escravizadas são identificadas apenas pelo primeiro nome – Tito, Vênus, Juba, Cato (coluna Slaved Persons) – e pelos nomes daqueles que as escravizaram (Enslavers). Uma coluna separada documenta como os escravizadores são homenageados por edifícios, ruas, pinturas, esculturas e cátedras (Memorialization).

Imagem em destaque: Gravura de William Burgis do campus da Universidade de Harvard em 1726. Harvard/Divulgação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *