Papa Francisco pede perdão pela ação de católicos contra povos indígenas no Canadá

Vergonha, dor e indignação: estes foram os sentimentos expressos pelo papa Francisco ao receber na manhã deste 1ª de abril, no Vaticano, delegações de indígenas canadenses. No decorrer da semana, o pontífice manteve encontros com três grupos (First Nations, Métis e Inuit), que sofreram as consequências da colonização, cujo último episódio público foi a recente descoberta de valas comuns no terreno da Kamloops Indian Residential School.

Entre o final de 1800 e o início de 1900, o governo canadense instituiu escolas residenciais para que as crianças indígenas assimilassem a cultura dos colonizadores. As escolas foram confiadas às igrejas cristãs locais, entre elas a católica. Nessas escolas, os estudantes sofreram abusos e maus-tratos. Centenas de crianças não voltaram para suas casas. Seu sumiço não tinha resposta. No entanto, elas morreram e foram enterradas dentro das instituições de ensino. Somente agora as valas com os cadáveres foram sendo descobertos graças à perseverante luta dos indígenas em busca do que realmente aconteceu naqueles tenebrosos anos.

Colonização ideológica: deplorável ontem e hoje

Em seu discurso, Francisco afirmou que ouviu com atenção os testemunhos, “imaginando as histórias e as situações”, e agradeceu por terem aberto o seu coração, no desejo de caminhar juntos.

De tudo o que ouviu, o papa salientou alguns aspectos, como a sabedoria dos povos originários resumida nesta frase: “É preciso pensar sete gerações à frente quando se toma uma decisão”.

“É o contrário do que acontece nos nossos dias”, comentou o papa, pois não se considera o futuro das próximas gerações. Ao invés, o elo entre idosos e jovens é indispensável, deve ser cultivado e protegido. Esta mesma sabedoria se manifesta também no cuidado da Criação, valorizada como “um dom dos céus”.

Mas a união com o território sofreu um duro golpe, infligido pela colonização, disse ainda Francisco. Sem respeito, muitos indígenas foram arrancados de seu ambiente vital e uniformizados a outra mentalidade.

“Assim a sua identidade e sua cultura foram feridas, muitas famílias separadas e muitos jovens se tornaram vítimas desta ação de homologação, amparada pelo ideal de que o progresso ocorra por colonização ideológica.”

É algo, denunciou mais uma vez o Papa, que acontece ainda hoje.

Vergonha, dor e indignação

Em sua fala, o papa recordou o sofrimento e a tristeza provocados pelos traumas sofridos: “Tudo isso suscitou em mim dois sentimentos: indignação e vergonha”. Indignação porque é injusto aceitar o mal e é pior ainda habituar-se a ele. Sem indignação, memória e compromisso de aprender com os erros, os problemas não se resolvem, como comprova a guerra que vemos nesses dias.

“E sinto também vergonha. Já disse e repito: sinto vergonha e dor pelo papel que vários católicos, em especial com responsabilidade educacional, tiveram em tudo o que os feriu; nos abusos e na falta de respeito por sua identidade, cultura e até mesmo valores espirituais. Tudo isto é contrário ao Evangelho de Jesus.”

Pela deplorável conduta daqueles membros da igreja católica, o papa pediu perdão a Deus e “gostaria de lhes dizer, de todo coração: estou muito entristecido”.

Francisco encerrou a audiência fazendo votos de que os encontros desses dias possam abrir caminhos a percorrer juntos, encorajando os bispos e os católicos locais a empreender passos pela busca transparente da verdade, promovendo a cura das feridas. “A Igreja está com vocês e quer continuar a caminhar com vocês”, garantiu o pontífice, renovando o desejo de visitar o Canadá, mas “não no inverno”, brincou.

Depois de assistir a apresentações de cantos da cultura indígena, em inglês, o Papa afirmou que reza por eles e pediu que façam o mesmo por ele.

Imagem em destaque: crédito – Vaticano.

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