Poluição do ar agrava transtornos mentais, revela estudo realizado na Inglaterra
Estudo envolvendo quase 14 mil pessoas em Londres, na Inglaterra, concluiu que a exposição a ar poluído pode levar ao agravamento de doenças mentais. Os cientistas cruzaram dados médicos de moradores no sul da cidade (obtidos desde os primeiros contatos com os serviços de saúde) com os níveis de poluição das áreas onde residem e concluíram que a ligação entre o ar poluído e danos mentais é “biologicamente plausível”. A pesquisa foi publicada no British Journal of Psychiatry e financiada pelo Centro de Pesquisa Biomédica Maudsley do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (NIHR), daquele país.
Em 2019, 119.000 pessoas viviam sob níveis inaceitáveis de poluição do ar em Londres. Pesquisas anteriores descobriram que adultos expostos a altos níveis de poluição do ar relacionada ao tráfego de veículos têm maior probabilidade de apresentar transtornos mentais comuns, como ansiedade e depressão leve, mas, até agora, pouco se sabia se a exposição à poluição atmosférica contribuía para o curso e a gravidade de uma doença mental mais séria após o seu início.
Pesquisadores do King’s College London, da University of Bristol, e do Imperial College London analisaram dados de 13.887 pessoas com 15 ou mais anos de idade e que tiveram contato pessoal com os serviços médicos do sul de Londres entre 2008 e 2012. Essas pessoas foram acompanhadas pelos pesquisadores por sete anos, desde a data do primeiro contato.
Registros eletrônicos de saúde mental anonimizados foram vinculados à média trimestral de concentrações modeladas de poluentes atmosféricos (pontos de grade de 20×20 metros) no endereço residencial dos participantes. Os poluentes atmosféricos incluíram dióxido de nitrogênio e óxidos de nitrogênio (NO2 e NOx ) e partículas finas e grossas (PM2,5 e PM10).
O dióxido de azoto, também conhecido por dióxido de nitrogênio – NO2 – é um dos principais poluentes que circulam na atmosfera. Provém de combustíveis fósseis, como o petróleo ou carvão. Queimados a elevadas temperaturas nos motores dos veículos e no setor industrial, transformam-se em gás tóxico e são lançados para o ar que respiramos.
Os riscos à saúde humana, principalmente em doenças respiratórias e pulmonares, estão amplamente comprovados e custam muito para os governos. Considerando apenas doenças do coração e pulmões, o Banco Mundial estima que a poluição do ar custa à economia global bilhões de dólares. Esses valores aumentam com a provável associação de doenças mentais à poluição do ar.
Dr. Ioannis Bakolis, principal autor do estudo e palestrante sênior em bioestatística e epidemiologia no Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência (IoPPN) do King’s College London, disse: “Já há evidências que ligam a poluição do ar à incidência de transtornos mentais, mas nossas novas descobertas sugerem que a poluição do ar também pode desempenhar um papel na gravidade dos transtornos mentais para pessoas com problemas de saúde mental pré-existentes”.
O estudo descobriu que pessoas expostas a níveis residenciais mais elevados de poluentes do ar foram mais vezes aos serviços de saúde mental nos meses e anos após sua primeira consulta se comparadas com quem ficou exposto a uma poluição do ar mais baixa.
É possível mudar essa situação
Ainda segundo Bakolis, a pesquisa indica que a poluição do ar é um fator de risco importante para o aumento da gravidade dos transtornos mentais. Mas é também um fator de risco facilmente modificável, o que sugere que mais iniciativas de saúde pública para reduzir a exposição, como zonas de baixa emissão, podem melhorar a saúde mental das pessoas, bem como reduzir os altos custos de saúde causados ??por doenças mentais crônicas de longo prazo”.