Pinacoteca expõe obras de arte produzidas para ilustrar livro Enciclopédia Negra

Pinacoteca expõe obras de arte produzidas para ilustrar livro Enciclopédia Negra

Desde 1º de maio está aberta ao público a exposição Enciclopédia negra na Pinacoteca de São Paulo. Pela primeira vez, poderão ser vistas as 103 obras de artistas contemporâneos para um livro homônimo de autoria dos pesquisadores Flávio Gomes e Lilia M. Schwarcz e do artista Jaime Lauriano, publicado em março de 2021 pela Companhia das Letras. A mostra é um desdobramento da publicação e está conectada à nova apresentação da coleção do museu, que se apoia em questionamentos contemporâneos e reflete narrativas mais inclusivas e diversas.

No livro, estão reunidas as biografias de mais de 550 personalidades negras, em 416 verbetes individuais e coletivos. Muitos desses personagens tiveram as suas imagens e histórias de vida apagadas ou nunca registradas. Para interromper essa invisibilidade, 36 artistas contemporâneos foram convidados a produzir retratos dos biografados. 

São eles: Amilton Santos, Antonio Obá, Andressa Monique, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Bruno Baptistelli, Castiel Vitorino, Dalton Paula, Daniel Lima, Desali, Elian Almeida, Hariel Revignet, Heloisa Hariadne, Igi Ayedun, Jackeline Romio, Jaime Lauriano, Juliana dos Santos, Kerolayne Kemblim, Kika Carvalho, Lidia Lisboa, Marcelo D’Salete, Mariana Rodrigues, Micaela Cyrino,Michel Cena, Moisés Patricio, Mônica Ventura, Mulambö, Nadia Taquary, Nathalia Ferreira, Oga Mendonça, Panmela Castro, Rebeca Carapiá, Renata Felinto, Rodrigo Bueno, Sonia Gomes e Tiago Sant’Ana.

Enciclopédia negra
Mais de 550 personalidades negras do Brasil reunidas em 416 verbetes.

Alguns dos trabalhos expostos já fizeram parte do caderno de imagens do livro. As obras, especialmente produzidas para o projeto, foram doadas ao museu pelos artistas e integrarão a coleção da Pinacoteca de São Paulo, criando uma importante intervenção no que diz respeito à busca por maior representatividade.

A mostra da Pinacoteca está dividida em seis núcleos temáticos: Rebeldes; Personagens atlânticos; Protagonistas negras; Artes e ofícios; Projetos de liberdade; e Religiosidades e ancestralidades. Esses núcleos misturam biografias de tempos históricos diversos, nas quais ressaltam aspectos em comum. Há registros de quem

  • liderou movimentos de resistência, como mestres curandeiros, professores, advogados, artistas, entre outros.
  • negociou condições de emprego e de vida;
  • negociou condições de vida das mulheres que tiveram de ser separadas de seus filhos;
  • com seu trabalho, conseguiu comprar as alforrias;

“As obras separadas nesses núcleos permitem ver como vidas vividas em diferentes momentos da história recente do Brasil têm afinidades, mostram como as lutas e as condições de vida desses personagens negros persistem. É muito bonito como a organização da exposição deixa isso mais evidente”, destacou a curadora da Pinacoteca de São Paulo, Ana Maria Maia.

Ela ressalta o ineditismo das obras. “Essas produções saem dos ateliês dos artistas e podem ser vistas pelo público pela primeira vez, antes de seguirem para outros locais. A gente deseja muito que o projeto Enciclopédia negra saia da Pinacoteca no ano que vem e chegue a outros lugares do Brasil”, diz Ana Maria.

Encontro com a coleção da Pinacoteca

Além dos núcleos temáticos, Enciclopédia negra se integra à nova apresentação da coleção da Pinacoteca. O visitante poderá conferir outras dez obras que fazem parte da exposição Pinacoteca: Acervo e que dialogam com as questões abordadas na mostra que se inicia agora. Isso ocorre em obras de artistas como Arthur Timóteo da Costa e Heitor dos Prazeres, fundamentais para o repertório da Enciclopédia.

Para as salas da mostra temporária também foram deslocadas três obras que já eram do acervo: Estudos para imolação, de Sidney Amaral; uma obra sem título, do Mestre Didi; e Objeto Emblemático 4, de Rubem Valentim. Há ainda o caso de Baiana, famosa pintura com autoria desconhecida, do Museu Paulista da Universidade de São Paulo em comodato com a Pinacoteca.

Revisar narrativas consolidadas na história social e institucional, no que se refere à representatividade de gênero e raça, tem sido uma das principais missões da Pinacoteca atualmente. Na nova apresentação do acervo, por exemplo, o número de obras de artistas negros mais do que triplicou se comparado com a exposição anterior. Antes eram sete e agora são 26. A chegada da Enciclopédia negra gera grande aporte nesse processo, que passará de 26 para 129 obras.

Fonte: Agência Brasil. Foto: Rovena Rosa

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