
Por que até os poetas odeiam poesia — e o que isso revela sobre nós?
Ben Lerner, uma das vozes mais incisivas da literatura norte-americana contemporânea, enfrenta esse paradoxo em “O ódio pela poesia”, ensaio traduzido pelo poeta Leonardo Fróes e lançado no Brasil. Com humor ácido e sagacidade, Lerner desmonta a ideia romântica da poesia como arte sublime para revelar seu cerne contraditório: ela nasce do desejo de transcendência, mas esbarra na finitude da linguagem, gerando frustração — e até aversão.
Do fracasso à fascinação:
Lerner argumenta que o ódio à poesia não é acidental, mas intrínseco a sua natureza. “A poesia surge do desejo de alcançar o divino, mas o poema real é sempre um fracasso”, escreve. Esse abismo entre ambição e resultado explica por que até seus praticantes nutrem desconfiança. O autor examina desde a condenação de Platão à poesia (vista como perigosa) até o “pior poema do mundo”, mostrando como a arte dos versos sobrevive justamente por sua incompletude, desafiando leitores e escritores a confrontarem limites da expressão humana.
Um debate sobre arte e existência:
Mais que analisar poemas, Lerner discute como a poesia permeia a política, os laços afetivos e até a criação das filhas. “Saber se a poesia é trabalho ou lazer é parte do ódio que ela provoca”, observa. O livro não oferece respostas, mas acende uma discussão urgente: odiar poesia talvez seja a forma mais honesta de amá-la.
Por que ler?
Para quem já se sentiu frustrado com versos obscuros ou emocionado por um haikai, Lerner oferece uma reflexão que desarma e encanta. Como ele afirma: “Entrar nos mares turvos da poesia é tarefa urgente — mesmo que o ódio seja garantido”.
Editora prevê que este livro esteja nas livrarias a partir de 10 de março.