O começo da Coca-Cola, tônico para o cérebro, os nervos, remédio contra a dor de cabeça
Hoje, a bebida está praticamente em todas as mesas durante as refeições e é consumida como um simples refrigerante. Mas no começo, no final do século 19, a coca-cola era apresentada ao público como um remédio contra muitos males, patenteado contra a dor de cabeça. O início dessa trajetória comercialmente bem sucedida em todo o mundo teve seus tropeços e está retratado nas páginas do livro Sugar Blues, de William Dufty. Reproduzimos aqui um trecho do relato de Dufty a respeito desse produto, cuja história envolve corrupção e batalhas judiciais.
Bem, no inicio do século 17, um viajante italiano descobriu que os índios sul-americanos mascavam constantemente as folhas das árvores de coca; no trabalho ou em viagem, eles carregavam as folhas em pequenas bolsas e as colocavam na boca, junto com pequenas quantidades de cal ou de cinzas de árvore de quinino. “Com isso, eles trabalhavam alegremente, e caminhavam por um dia ou dois sem descansar ou comer qualquer outra coisa”, escreveu Francesco Carietti em seu diário, entre 1594 e 1606.
Duas ou três vezes ao dia, tudo parava para a pausa da coca. Para os índios peruanos isso foi, desde tempos imemoriais, a pausa que refresca, estimula, aguça a mente e aumenta a potência física. Através do refino da folha de coca sul-americana, derivou-se uma constelação de drogas alcaloides, que foram chamadas cocaína. Hoje, a coca é cultivada nas Índias Ocidentais, em Java, Sumatra e outras partes do mundo tropical.
Na América do Norte, os índios mascavam e fumavam o tabaco. No entanto, na África Ocidental, os nativos tinham o hábito de ficar ligados mascando pedaços de castanha de cola. Essa castanha continha cafeína (encontrada em concentrações menores no café) e um outro estimulante que no Ocidente passou a ser usado como estimulante cardíaco, a colanina.
Nos bons velhos tempos, no sul dos Estados Unidos, quando muitas senhoras bem nascidas se “medicavam” com doses diárias de láudano e outros xaropes de ópio, a coca-cola começou como um remédio patenteado contra a dor de cabeça. Naqueles dias, o tráfico de drogas era um negócio de bilhões de dólares, totalmente legitimado e legalizado. Ópio, cocaína, morfina e, posteriormente, heroína eram anunciados nas primeiras páginas de jornais e revistas como a cura para tudo, da sífilis ao mau hálito. O remédio patenteado contra a dor de cabeça, assim como a maioria dos remédios açucarados postos no mercado, eram formadores de hábito, por definição e intenção. O hábito da coca-cola tornou-se a base de um negócio multimilionário no sul dos EUA. Na década de 1890, os anúncios de coca-cola descreviam o produto como “Um Maravilhoso Tônico para os Nervos e para o Cérebro e um Notável Agente Terapêutico”. O governo federal aprovou sua primeira Lei sobre Drogas e Alimentos Puros em 1906. Observando as determinações dessa lei, o Bureau de Química do Departamento de Agricultura dos EUA analisou a coca-cola. Depois de avaliá-la levantou acusações contra a companhia, apreendeu uma carga de coca-cola em trânsito interestadual e recomendou que acusações criminais por adulteração e rótulos incorretos fossem feitas contra fabricantes e distribuidores. (Extraído do livro Sugar Blues, págs.160 e 161)