Dinossauros viveram em Mato Grosso do Sul numa região fronteiriça a deserto
Uma extensa pesquisa de campo realizada por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na região da cidade de Nioaque, no Mato Grosso do Sul, revelou a presença de pegadas fósseis de dinossauros em rochas que já foram a margem de um imenso ambiente desértico. Além das pegadas, os pesquisadores coletaram fósseis de um pequeno invertebrado em uma paleotoca, que é uma espécie de toca cavada por animais já extintos que se utilizavam desses abrigos subterrâneos. Os resultados do estudo foram publicados nesta semana no Journal of South American Earth Sciences, um periódico científico dedicado às ciências da terra.
O estudo foi realizado pelos paleontólogos Rafael Costa da Silva, que é do Museu de Ciências da Terra (MCTer) do Serviço Geológico do Brasil, Maria Izabel Lima de Manes e Sandro Marcelo Scheffler, ambos do Museu Nacional da UFRJ. De acordo com os pesquisadores, foram identificadas pegadas e trilhas de dinossauros terópodes (carnívoros) e ornitópodes (herbívoros), duas espécies que não são conhecidas. O tamanho dos animais, calculado a partir das pegadas, variava de um até seis metros de comprimento.
Em relação à paleotoca, os pesquisadores relataram que foi escavada por um pequeno vertebrado, possivelmente um mamífero. Os fósseis coletados na etapa de campo estão depositados no MCTer, situado na Urca, no Rio de Janeiro.
A maioria dos sítios paleontológicos estudados estão localizados nas margens do rio Nioaque e o difícil acesso foi feito pelos pesquisadores por meio de barcos e caiaques. Um dos sítios já era conhecido e integra a proposta do Geoparque Bodoquena-Pantanal.
As rochas dessa região eram até então consideradas de origem glacial, com idade de 300 milhões de anos. Conforme demonstrou o estudo, essas rochas foram formadas por um antigo sistema de rios que margeava um deserto de dunas, semelhante ao Saara, do tempo dos dinossauros. Esse deserto é representado pelos arenitos conhecidos como “Formação Botucatu”, descrito pela primeira vez na cidade homônima e com idade de cerca de 140 milhões de anos (período Cretáceo). Com o passar do tempo, esses rios secaram e foram substituídos pelo grande deserto, que chegou a cobrir uma ampla área entre o Uruguai e o Mato Grosso do Sul.
O estudo pode ser acessado AQUI.
Imagem destacada – Sítio paleontológico nas margens do rio Nioaque, no Mato Grosso do Sul.
As fotos e ilustrações da matéria são de Rafael Costa da Silva (Museu de Ciências da Terra)