
Terça-feira. Este é o dia em que a NASA vai lançar ao espaço pela primeira vez uma nave com o objetivo de se chocar contra um asteroide. A intenção é verificar se a colisão será capaz de desviar da rota um corpo celeste que tem a Terra em seu caminho. Por enquanto, é apenas um teste. O asteroide alvo da missão não é uma ameaça real. Mas os pesquisadores querem ver se a estratégia será capaz de, no futuro, mudar a trajetória de um asteroide que seja verdadeiramente perigoso para a vida terrestre. A missão será realizada em conjunto com a Agência Espacial Italiana (ASI) que, com sua sonda LICIACube, irá documentar o impacto, além de outras coisas.
Programada para ser lançada na Califórnia no próximo dia 23, a espaçonave é chamada de Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo (DART, na sigla em inglês, ou DARDO, em português). Seu alvo é um par de asteroides que viajam juntos pelo espaço, um orbitando o outro enquanto giram em torno do Sol. Dimorphos, o menor dos dois, com 160 metros de largura, orbita Didymos (que significa gêmeo, em grego) e é quase 5 vezes maior.
Se o lançamento for bem sucedido, a nave espacial viajará 11 milhões de quilômetros e, no final de setembro ou começo de outubro de 2022, atingirá Dimorphos a 24 mil quilômetros por hora. O impacto deve encolher a órbita de Dimorphos para que circule Didymos pelo menos 73 segundos mais rápido do que antes do choque.

Dez dias antes do impacto, LICIACube será liberada do dispensador da DART e passará a ter uma navegação autônoma em direção ao duplo asteroide, a fim de testemunhar o choque e adquirir imagens de Dimorphos após o impacto, inclusive do hemisfério não atingido. Astrônomos usando telescópios observarão Dimorphos a partir da Terra em busca de sinais dessa alteração orbital – o que seria perceptível na maneira como seu brilho muda ao passar diante e atrás de Didymos.
Esta coreografia complicada tem como objetivo testar a ideia de que colidir com um asteroide pode dar uma ajudazinha para impedir que ele atinja a Terra, diz Nancy Chabot, uma cientista planetária do JHU-APL que trabalha na missão. Focar nos dois é “uma maneira muito inteligente e segura de fazer este primeiro teste”, diz ela.
“As chances de algo grande o suficiente para ser um problema, que teríamos que desviar, são muito pequenas em nossas vidas”, diz Andy Rivkin, cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (JHU-APL), com sede em Laurel, Maryland/EUA, que construiu a espaçonave.“Mas a situação pode aparecer quando menos se espera, e é bom estarmos preparados”.
Lutando contra asteroides
Pequenos asteroides e fragmentos de asteroides atingem a Terra o tempo todo, mas a maioria deles se desintegra na atmosfera ou cai inofensivamente no solo como meteoritos (como este, visto recentemente nos céus de Cuiabá). A NASA identificou até agora mais de 27.000 deles com trajetórias que os aproximam da Terra. A preocupação é que algum novo asteroide possa surgir, vindo diretamente contra o planeta – e que seja grande o suficiente para causar sérias consequências quando nos atingir, assim como o asteroide que ajudou a matar os dinossauros e outras formas de vida na Terra 66 milhões de anos atrás.
Os cientistas espaciais apresentaram muitas ideias para combater os asteroides que se aproximam, a mais dramática das quais envolve detoná-los com armas nucleares. Outras estratégias menos dignas de cinema envolvem alterar a trajetória do asteroide com uma espaçonave que viaje ao lado dele e puxe-o usando forças gravitacionais, ou colidindo com ele como a missão DART, de 330 milhões de dólares.
Fonte: Nature, NASA e ASI. Imagem em destaque: Uma ilustração da espaçonave DART da NASA e do LICIACube da Agência Espacial Italiana (ASI) antes do impacto no sistema binário Didymos. Crédito: NASA / Johns Hopkins; APL / Steve Gribben