Chico Buarque recebe o Prêmio Camões de Literatura mesmo que Bolsonaro não assine o diploma

A data não está definida. Sabe-se apenas que não será neste ano. Mas o local está. Será em Lisboa que Chico Buarque de Hollanda vai receber o Prêmio Camões de Literatura 2019 pelo conjunto de sua obra, tanto na música como no terreno das letras. A premiação, anual e considerada a mais importante da língua portuguesa em todo o mundo, contempla autores de Brasil, Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Guiné-Bissau ou Timor Oriental, escolhidos por uma comissão julgadora composta por representantes do Brasil, Portugal e de países africanos que têm a língua portuguesa como oficial. Foi criada em 1988 com o objetivo de consagrar um autor que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural de nossa língua comum.

Chico Buarque de Hollanda – Foto: Divulgação

Neste ano, participaram do júri: Antonio Carlos Hohlfeld e Antonio Cícero Correia Lima pelo Brasil; Manuel Frias Martins por Portugal; Nataniel Ngomane por Moçambique; e Ana Paula Tavares por Angola. Eles chegaram ao nome de Chico Buarque numa reunião realizada no dia 21 de maio, na sede da Fundação Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janeiro.

Divulgação inesperada

A presente edição do prêmio ganha maior notoriedade mundial por algo que nada tem a ver com a produção literária do compositor e escritor brasileiro, de inquestionável qualidade.

Além dos 100 mil euros (cerca de 450 mil reais), Chico Buarque também receberá, na cerimônia, um diploma assinado pelos governos português e brasileiro, criadores da láurea. O dinheiro já está reservado. O governo português também já assinou o diploma, mas o brasileiro, não. Bolsonaro mostra-se disposto a não assiná-lo e faz chacota. Em recente fala, adiantou que teria até 31 de dezembro de 2026 para assinar (último dia de um hipotético segundo mandato).

Feita a declaração, diplomaticamente, o ministério da Cultura de Portugal emitiu nota lembrando que “a cerimônia de entrega acontece em 2020, em Portugal”. Por seu turno, Chico Buarque, manifesto opositor ao atual presidente do Brasil e seu modo de governar o país, declarou que, ao não assinar, Bolsonaro estaria dando a ele um segundo prêmio.

O fato é que, com isso, a premiação entra para a história de um modo inusitado e vergonhoso para o Brasil porque, com ou sem a assinatura de Bolsonaro, a cerimônia vai acontecer, garantem os portugueses.

Sexto romance de Chico chega às livrarias em novembro

Um escritor decadente passa por um deserto criativo e emocional enquanto o Rio de Janeiro colapsa ao seu redor. Em seu sexto romance, Chico Buarque constrói uma engenhosa trama em cujas entrelinhas se revelam as contradições do Brasil de agora.

Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro, em 1944. Compositor, cantor e ficcionista, além das peças Roda Viva (1968), Calabar, escrita em parceria com Ruy Guerra (1973), Gota d’Água, com Paulo Pontes (1975), e Ópera do Malandro (1979), publicou a novela Fazenda Modelo (1974) e os romances Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009) e O Irmão Alemão (2014). Seu próximo livro – Essa Gente – chega no mercado nacional em 14 de novembro deste ano.

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