
Foto Crédito: Agência PáginaUm de Notícias
Parte 1: O Contrato Silencioso
Quando Lara assinou o contrato de trabalho, não havia cláusulas sobre noites sem dormir ou ataques de pânico. A vaga em uma multinacional de tecnologia parecia um sonho: salário alto, “ambiente dinâmico” (segundo o RH) e promessas de crescimento. O que ela não sabia era que “dinâmico” significava metas mensais ajustadas arbitrariamente, e “crescimento” era a desculpa para sobrecarga constante.
Seu chefe, Ricardo, era um mestre na arte do gaslighting corporativo. Em reuniões, elogiava “flexibilidade” enquanto delegava tarefas de três pessoas a Lara. Se ela reclamava, respondia com um sorriso frio: “Você é nossa estrela, sabemos que dá conta!”. Aos poucos, ela foi abandonando hobbies, amigos, até o curso de pintura que amava. “É temporário”, dizia, enquanto comprimidos para ansiedade viraram rotina.
Parte 2: O Preço da Máscara
A equipe era um espelho da competição tóxica: colegas roubavam créditos, espalhavam fofocas para parecerem “mais dedicados”. Carla, da mesa ao lado, teve um aborto espontâneo após trabalhar 12 horas diárias por meses. Quando pediu redução de jornada, foi demitida por “não se alinhar à cultura”. Lara guardou o desespero — até o dia em que viu Marcos, o estagiário, sendo humilhado por não aceitar fazer horas extras não pagas. Ela mesma começara a ter úlceras.
Dado chave: Um relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) revela que 52% dos trabalhadores em setores de alta pressão desenvolvem transtornos digestivos crônicos.
Parte 3: O Colapso que Ninguém Viu
A gota d’água foi um e-mail enviado às 23h47 de um domingo: “Precisamos refazer toda a análise. Para ontem.” Lara digitou uma resposta educada, mas suas mãos tremiam tanto que derrubaram o café no teclado. Na madrugada, enquanto forçava os olhos a permanecerem abertos, uma dor aguda no peito a levou ao pronto-socorro. O diagnóstico: crise de ansiedade generalizada. O médico foi direto: “Se continuar assim, seu próximo destino será o infarto.”
Parte 4: A Rede (In)visível
Na licença médica, Lara descobriu fóruns online onde milhares desabafavam sobre ambientes similares. Um depoimento a marcou: “Sou gerente há 10 anos e tomo antidepressivos escondido. Tenho medo de parecer fraco.” Ela também encontrou dados da OMS: Depressão e ansiedade custam à economia global US$ 1 trilhão/ano em perda de produtividade — ironicamente, o mesmo valor que sua empresa lucrara no último trimestre.
Parte 5: Não Há Revolução sem União
Lara processou a empresa por assédio moral. No tribunal, o advogado da defesa argumentou: “Ela assinou o contrato sabendo das responsabilidades.” Mas Lara mostrou prints de mensagens abusivas, laudos médicos e até gravações de reuniões onde Ricardo a chamava de “burra” por errar um decimal. A vitória veio, mas o processo foi apenas o começo.
Ela fundou um coletivo chamado “Cláusula Invisível”, que ensinava trabalhadores a identificarem abusos velados em contratos e políticas corporativas. Marcos, agora formado, juntou-se a ela: “A gente pensa que é só mais um número, até descobrir que números podem virar um exército”.
Parte 6: O Sistema Contra-Ataca
Não foi fácil. Empresas boicotaram palestras do coletivo, e Lara recebeu ameaças anônimas. Mas histórias como a de Diego, um operário de logística que evitou o suicídio após entrar para o grupo, a mantinham firme. Informação da OIT: Trabalhadores que têm suporte coletivo reduzem em 40% o risco de desenvolver doenças mentais graves.
Epílogo: O alerta final
Cinco anos depois, Lara sentou-se para assinar um novo documento: o contrato de lançamento de seu livro “Saúde Mental Não É Benefício — É Direito!”. Nele, detalhava como pressionou parlamentares a incluírem cláusulas de saúde mental na CLT. A primeira cópia foi enviada para Ricardo — agora afastado após denúncias de assédio sexual.
Na última página, Lara escreveu:
“Nenhum emprego merece sua alma como pagamento. Coloque sua vida onde ela valer mais.”
O que é gaslighting?
Gaslighting é uma forma de abuso psicológico em que alguém manipula você para duvidar da sua própria memória, percepção ou sanidade. A pessoa faz você acreditar que está “louco(a)”, “exagerando” ou “lembrando das coisas errado”, mesmo quando você tem certeza do que aconteceu.
Exemplo:
- Imagine que seu irmão comeu o último pedaço de bolo e deixou a embalagem suja na mesa. Quando você pergunta, ele diz: “Você está maluca? Foi você quem comeu! Olha aí, até deixou a mesa bagunçada!”. Você sabe que não fez isso, mas ele repete tanto que você começa a acreditar que realmente esqueceu. Isso é gaslighting.
Por que é perigoso?
Quem usa gaslighting quer controlar você fazendo com que perca a confiança em si mesmo. É comum em relacionamentos abusivos, famílias tóxicas ou até no trabalho (como no conto da Lara).
Como identificar:
- A pessoa nega coisas que você sabe que são verdade.
- Diz frases como “Você está inventando coisas” ou “Nunca aconteceu isso”.
- Você se sente confuso(a) ou questiona sua memória com frequência.
Se suspeitar que sofre gaslighting, converse com alguém de confiança ou busque ajuda profissional.