Dor nas costas? As viagens espaciais podem trazer a cura para quem vive por aqui

Dor nas costas? As viagens espaciais podem trazer a cura para quem vive por aqui

Com o número cada vez maior de humanos se aventurando no espaço, os especialistas preveem um aumento no número de pessoas que sofrem os efeitos físicos dessas viagens, incluindo formas altamente comuns de dor nas costas. A previsão vem em um novo relatório de pesquisadores da Johns Hopkins Medicine, publicado na edição de setembro da revista Anesthesiology, com base em uma revisão abrangente de estudos anteriores medindo os efeitos das viagens espaciais na coluna vertebral e explorando métodos para prevenir, diagnosticar e tratar dor nas costas. Os cientistas afirmam que um estudo mais aprofundado desses métodos entre os astronautas – incluindo trajes especializados e certos exercícios – pode fornecer ideias para o tratamento da dor nas costas em cerca de 80% das pessoas que vivem na Terra e sofrem com ela durante suas vidas.

Para Steven Cohen, coronel aposentado do Exército norte-americano e professor de anestesiologia e medicina intensiva na Johns Hopkins, “a percepção da dor nas costas em viajantes espaciais pode fornecer informações úteis para o tratamento da dor nas costas em outras populações”.

Dor nas costas: uma dor comum entre os astronautas

De acordo com a revisão, estudos anteriores com astronautas mostraram que 52% dos viajantes espaciais relatam algum tipo de dor nas costas nos primeiros dois a cinco dias da viagem ao cosmos. Esse número é baseado em um estudo retrospectivo de 722 voos espaciais em todo o mundo publicado em 2012 na Aerospace Medicine and Human Performance. A condição agora é apelidada de “dor nas costas de adaptação espacial” e, embora 86% dos casos fossem leves, a dor foi suficiente para prejudicar a capacidade de um astronauta completar suas tarefas no espaço. Além disso, os viajantes espaciais correm maior risco de ciática – uma forma de dor nas costas que pode irradiar para baixo, nas pernas.

Além dos estudos entre astronautas, um estudo da Universidade de Innsbruck, na Áustria, mostrou que quase metade dos pilotos de helicópteros militares e tripulantes que experimentam forças gravitacionais flutuantes relatam dor lombar. Os pilotos têm quase três vezes mais probabilidade de desenvolver hérnia de disco lombar (parte inferior das costas) – uma lesão no amortecimento conjuntivo macio da coluna vertebral – em comparação com a população em geral. Já os astronautas têm quatro vezes mais chances de adquirir uma hernia de disco, de acordo com um estudo da NASA em 2010, e o risco era ainda maior no primeiro ano após o retorno à Terra.

No espaço, você aumenta de tamanho

Nossa coluna vertebral à esquerda e no espaço, à direita. Crédito: Johns Hopkins Medicine.

Radostin Penchev, um médico residente no Hospital Johns Hopkins, explica que a alta prevalência de dor nas costas entre esses grupos é compreensível porque a coluna vertebral humana é construída para sustentar nossos corpos sob as forças gravitacionais experimentadas na Terra. Uma característica proeminente é a curvatura da coluna – uma curvatura em forma de S na coluna que permite resistir à gravidade, permanecer flexível e absorver peso e impacto (veja a ilustração). Porém, na microgravidade, essa curva é reduzida. De acordo com os pesquisadores, alguns dos primeiros dados de explorações espaciais mostraram que os astronautas “cresceram” mais de 7 centímetros no espaço devido à perda dessa curva. Estudos mais recentes usando varreduras de ressonância magnética mostraram que os astronautas modernos têm uma curva reduzida na coluna.

“Se a gravidade reduzida permitir que essa curvatura se endireite, isso não só pode ser uma causa de dor aguda em astronautas mas também pode afetar a estabilidade de sua coluna quando eles voltem para a Terra” – diz Penchev.

Prevenção e tratamento de dores nas costas de astronautas

Em sua revisão de estudos anteriores, os pesquisadores disseram que, junto com o estresse da microgravidade, outros fatores que contribuem para a dor nas costas no espaço incluem a intensa experiência física de andar de foguete e uma mudança nos hábitos alimentares que podem alterar os níveis nutricionais no corpo e afetar a saúde e a cicatrização dos tecidos.

Os pesquisadores afirmam que, ao longo da Era Espacial, os exercícios de resistência – como isométricos, agachamentos, estocadas e supino – têm sido um dos pilares da prevenção da dor nas costas, e as estações espaciais são equipadas com máquinas de exercícios e outras ferramentas de treinamento de resistência.

“A ficção científica popularizou a estação espacial giratória que usa a força centrífuga para imitar a gravidade”, diz Penchev. Uma alternativa mais realista, e talvez melhor, são os trajes especializados que fornecem resistência espinhal semelhante à experimentada sob a gravidade da Terra, acrescenta ele.

A experiência é semelhante a colocar elásticos dos ombros aos quadris para ajudar a ativar os grupos musculares que nos mantêm de pé na Terra, dizem os pesquisadores. O estudo Aerospace Medicine and Human Performance de 722 voos espaciais mostrou que o uso de tal roupa de resistência junto com regimes de exercícios aliviou a dor nas costas de adaptação ao espaço em 85% dos indivíduos. No entanto, alguns astronautas reclamam que esses trajes são desconfortáveis ??e atrapalham seus movimentos.

Outros métodos para prevenir dores nas costas entre os astronautas mencionados pelos pesquisadores incluem massagem, suplementação nutricional para aumentar a vitamina D e a ingestão calórica, estimulação elétrica neuromuscular e dispositivos de pressão negativa, todos combinados com exercícios de resistência.

Para combater as vibrações intensas e a velocidade dos foguetes no espaço, Cohen, Penchev e sua equipe acreditam que a engenharia de veículos espaciais para melhorar a proteção contra impactos para a tripulação de voo e alinhar as forças de aceleração e impacto com a anatomia humana pode reduzir o número de astronautas experimentando dor nas costas ou lesão de longo prazo.

Enfim, todos esses avanços científicos voltados para a resolução das dores lombares sofridas pelos astronautas em suas viagens espaciais poderão, em breve, estar à disposição da medicina para sanar a dor nas costas da população em geral.

Imagem em destaque: Pexels


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *