Adorno alertava sobre o novo radicalismo de direita já na década de 1960
Em 1967, Theodor Adorno proferiu palestra para a União dos Estudantes Socialistas da Áustria, em que abre seu discurso com as seguintes palavras: “Os pressupostos dos movimentos fascistas, apesar de seu colapso, ainda perduram socialmente, mesmo se não perduram de forma imediatamente política.” Apesar do fim do horror do regime nazista, o que o provocara ainda estava presente, alerta o filósofo, conforme se pode conferir em Aspectos do novo radicalismo de direita, lançamento da Editora Unesp.
“Ao dar essa palestra, Adorno tem em vista a expressividade eleitoral que começava a ter o NPD, partido neonazi que havia sido fundado em 1964 e que funciona ainda hoje, embora a AfD (Alternative für Deutschland) tenha aparecido recentemente como uma força mais presente no campo da extrema direita”, escreve no prefácio à edição brasileira o tradutor do texto, Felipe Catalani. “Além de analisar os truques psicológicos da propaganda fascista, ele busca enxergar aquilo que está sendo fermentado socialmente e que serve de lastro para esse novo radicalismo de direita.”
Adorno destaca que a teoria critica frankfurtiana no pós-guerra não deixa de ser uma elaboração sobre um mundo em que, embora o fascismo tenha sido derrotado militarmente, aquilo que o causou permaneceu intacto. “Fala-se de iminente recaída na barbárie. Mas ela não é iminente, uma vez que Auschwitz foi a recaída; a barbárie subsistirá enquanto perdurarem, no essencial, as condições que produziram aquela recaída”, escreve.
Além disso, questiona a própria definição de “normalidade restaurada” a partir dos programas dos aliados de “desnazificação” e de “reeducação”, pois o espírito do tempo da Era Adenauer era de “esquecimento e fria enganação”: vários ex-nazistas ocupavam posições no governo, por exemplo. O filósofo político Carl Schmitt, lembra Catalani, se recusara a fazer o processo de “desnazificação”, caracterizando-o como uma “guerra civil fria”. Ele chegou a redigir “em 1949 um artigo sobre ‘A anistia ou a força do esquecimento’, defendendo o esquecer como a mais nobre das faculdades humanas, condição de toda paz, e que, “após o restabelecimento de condições normais, ninguém mais pode ser punido em razão do fato de ter estado do lado errado”.
Aos olhos das turbulências da democracia no século XXI, impressiona hoje certo teor profético dessas análises de 1967. Sobre os movimentos radicais de direita à época, Adorno diz o seguinte: “Não se deve subestimar esses movimentos devido a seu baixo nível intelectual e devido a sua ausência de teoria. Creio que seria uma falta total de senso político se acreditássemos, por causa disso, que eles são malsucedidos. A propaganda é genial, sobretudo pelo fato de que, nesses partidos e movimentos, ela nivela a diferença, a diferença inquestionável entre os interesses reais e os falsos objetivos simulados. Assim como outrora com os nazistas, a propaganda é realmente a substância mesma da coisa.”
Sobre o autor – Theodor W. Adorno (1903-1969) foi um filósofo alemão e um dos principais teóricos da cultura. Fez parte da corrente conhecida como Escola de Frankfurt, ao lado de Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jürgen Habermas.
- TRADUÇÃO: Felipe Catalani
- ASSUNTOS: Filosofia / Política
- ANO: 2020
- ACABAMENTO: LIVRO BROCHURA (PAPERBACK)
- PÁGINAS: 104
- EDIÇÃO: 1
- ISBN: 9786557110089
- PESO: 140g
- FORMATO: 14 X 21